Quero ser mãe independente: como encontrar uma clínica?

Pensando em reprodução assistida, com ou sem doação de sêmen, mulheres que desejam seguir em frente com o projeto de mãe solo por opção podem se sentir um pouco perdidas na hora de procurar por uma boa clínica com ética e preços adequados para realizar os procedimentos que exigem o processo como um todo. O Maternidade Independente consultou o Dr. Vicente Ghilardi (o médico que fez o meu tratamento) que trabalha com reprodução assistida há mais de 20 anos, e a Dra Hitomi Nakagawa, ginecologista e presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, para entender como as tentantes devem se organizar para iniciar a jornada em busca do sonho de se tornarem mães.

Estudando o assunto

A internet disponibiliza diversos conteúdos sobre o assunto, mas é seguro confiar nessas informações? Muita informação sem direcionamento profissional pode mais atrapalhar do que ajudar. Por isso é importante utilizar esse conhecimento, mas com maleabilidade e respeito as orientações médicas individuais que surgirem. “Na atualidade em que o acesso às informações é imediato por meio das mídias, o grande desafio é a seleção do que se vê, ouve e lê; seguramente, a responsabilidade do profissional que acolhe a pessoa que necessita de uma clínica de reprodução assistida é redobrada. Frequentemente, recebemos pacientes que já trazem seu diagnóstico e proposta de tratamento definidos por essas informações nem sempre baseadas em evidências científicas consolidadas e há muita perda de tempo e energia para desmistificar os conceitos errôneos enraizados pelos nossos pacientes”, explica a Dra. Hitomi Nagakawa. 

Na opinião dela, o corpo humano não é uma estrutura cartesiana e que um protocolo de estimulação ovariana pode ter variação na resposta por mulheres distintas, mesmo que elas tenham idade, índice de massa corpórea e exames laboratoriais semelhantes. “Com isso quero chamar a atenção para fatos como os que nós temos que orientar em relação a benefícios e custos de se empregar uma determinada tecnologia, mesmo que amplamente promovida como novidade”, completa. 

Para o Dr. Vicente Ghilardi há também benefícios de chegar com uma pesquisa prévia e lista de dúvidas, pois quanto mais informações a tentante tiver melhor para aproveitar a consulta médica tirando todas as dúvidas que surgirem nas pesquisas. “É fundamental que o médico nessa primeira consulta também detalhe todo o processo para essa paciente porque isso vai trazer segurança para ela, segurança com o profissional e com a clínica também”.

Consultando certificados e garantias

Vale a pena consultar os certificados das clínicas em que se busca atendimento. A Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) oferece validações para todas as categorias de profissionais envolvidos no procedimento: médicos, enfermeiros, psicólogos e embriologistas a partir da comprovação de sua proficiência de atuação na área. Também é possível consultar a Rede latino-americana de Reprodução Assistida – REDLARA, da qual a SBRA também é parceira, e que faz auditorias locais, coleta dados anuais de ciclos de clínicas associadas, emite certificados e as credencia para o fornecimento dessas estatísticas. A REDLARA é parceira do International Committee Monitoring Assisted Reproduction Technologies (ICMART), responsável pela coleta e publicação do registro mundial de Reprodução Assistida.

Sobre os riscos de procedimentos inadequados ou do consultório fechar durante o tratamento, a Dra Hitomi explica que toda clínica deve ter um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme orienta a Resolução 2168/2017 do Conselho Federal de Medicina, em relação ao procedimento a ser realizado em Reprodução Assistida em que estarão expostas as circunstâncias para a aplicação da mesma. Na eventualidade de encerramento das atividades de uma clínica de Reprodução Assistida, o material biológico que esteja sob seus cuidados será transferido a uma outra instituição conveniada, parceira, de referência ou indicada pelo paciente.

Trazendo as expectativas para a realidade e a importância do apoio psicológico

A maternidade independente é a realização de um sonho, por isso envolve bastante expectativas e subjetividades de cada mulher que inicia essa jornada. Para evitar ciladas emocionais com as frustrações que podem surgir, é preciso conhecer bem o território que você está adentrando e estar preparada para os cenários possíveis, como por exemplo, as tentativas que não dão certo. O Dr. Vicente explica que mulheres independentes que buscam a reprodução assistida possuem uma expectativa maior do que os casais, já que acreditam por estarem usando um sêmen de doador, as chances serão maiores, quando na verdade tudo depende da idade do óvulo. “Em nenhum tratamento, o médico pode dar 100% de chances de sucesso. E nessas situações, o tratamento da infertilidade está diretamente relacionado à idade da mulher e do óvulo. Isso por a gente não sabe exatamente como se dá o mecanismo de implantação do embrião no útero”. Segundo ele, a probabilidade da 1ª tentativa de uma mulher abaixo de 35 anos dar certo, em uma clínica de qualidade e um laboratório de excelência, é de 50 a 55% de chances. Pensando na transferência de dois embriões de qualidade. As mulheres de 36 a 39 anos terão em torno de 40% de chances, dependendo da idade mais próxima ou mais distante de 35 anos. As mulheres que começam a partir de 40 anos de idade terão em torno de 20 a 25%, dependendo da qualidade dos embriões que forem transferidos. 

O apoio psicológico é muito importante nesse processo, seja de uma profissional ou do acolhimento emocional da família e amigos, para lidar com o desgaste do tratamento, que envolve tanto a frustração de tentativas como a alteração hormonal dos medicamentos. “O apoio psicológico não é uma necessidade, mas é uma possibilidade. Cada mulher tem uma cabeça e reage de uma maneira diferente ao processo. Muitas não gostam de externar que estão fazendo esse tratamento, então ela guarda esse momento para ela, mas quando ela puder falar, e ser acolhida, é melhor para ela”, orienta Dr. Vicente. No meu caso, eu fiquei muito introspectiva nessa fase e só contei para duas amigas, sendo que uma deles foi comigo às três tentativas que fiz. A ansiedade é um fator importante e presente nessa fase por isso é importante esse alerta.

Entendendo valores

Não existe uma tabela de valores para os procedimentos, como a Dra Hitomi, da SBRA, explica, as modalidades terapêuticas e as necessidades para se tentar a solução dos casos que necessitam da Reprodução Assistida devem ser personalizadas, os insumos utilizados podem vir de fontes diversas e isso acaba interferindo no orçamento final. Ou seja, cada caso é um caso e depende da estratégia que o médico vai adotar. Tenha em mente que a clínica é uma das partes que envolve o processo, existem ainda os medicamentos e o banco de sêmen para a busca do doador. Este pode ser tanto nacional e, portanto, anônimo ou importado que é de identidade conhecida.

Resumindo

Pesquise sobre os procedimentos, clínicas e profissionais certificados, tire dúvidas, mas sempre se baseando em fontes seguras embasadas na ciência, sendo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e seus parceiros. Procure profissionais que façam você se sentir segura e que te expliquem todo o processo que você vai passar: a parte médica, os medicamentos e o processo do doador. Se prepare bem financeiramente. E quando se sentir sobrecarregada, receosa e desafiada emocionalmente, não tenha medo de pedir ajuda a profissionais ou de optar por profissionais da saúde mental e de se acolher com familiares e amigos que estejam torcendo por você. 

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